Cientistas da USP em Ribeirão Preto conseguem isolar neurotoxina da carambola

Pesquisa conseguiu isolar e caracterizar uma neurotoxina presente na carambola, que atua no sistema nervoso quando não filtrada pelo rim.

Hérika Dias/Agência USP de Notícias

Pesquisa realizada em colaboração entre a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) e a Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP), ambas da USP, conseguiu isolar e caracterizar uma neurotoxina presente na carambola, que atua no sistema nervoso quando não filtrada pelo rim. Ela recebeu o nome de caramboxina. O trabalho foi capa da edição do dia 2 de dezembro da revista Angewandte Chemie International, com status de VIP (Very Important Paper).

O professor Norberto Peporine Lopes, da FCFRP, explica que ao isolar a caramboxina percebeu-se sua baixa concentração na fruta. Para conseguir 3 miligramas da substância foram necessários 20 quilos de carambolas, colhidas de árvores que não passaram por tratamentos com pesticidas. Os pesquisadores também confirmaram que a neurotoxicina sofre degradação quando misturada e conservada por um longo período em água.

“Se uma pessoa sadia ingere a carambola, a toxina é absorvida pela digestão, filtrada pelo rim e eliminada na urina. Mas em pacientes com problemas renais, como o funcionamento do rim está comprometido, a toxina, que é um aminoácido modificado, cai na corrente sanguínea, se liga a potenciais receptores do sistema nervoso central e inicia uma sequência de eventos que incluem: soluços, confusão mental, agitação psicomotora, convulsões e até a morte”, explica Lopes. Ele alerta que mesmo pessoas sem histórico de problemas renais devem consumir a fruta moderadamente, já que a carambola possui ácido oxálico que pode causar cálculos renais.

Nova ferramenta

Para caracterizar a ação da caramboxina, foram feitos testes com suco concentrado da carambola em animais de laboratório com insuficiência renal. “A ingestão do suco pelos animais produziu efeito simiular às pessoas na mesma situação, como convulsões e óbitos”, afirma o professor Norberto Garcia-Cairasco, da FMRP. Ele destacou que o uso de animais era imprescíndivel para comprovar os sintomas decorrentes da intoxicação por carambola.

Segundo o professor Garcia-Cairasco, a caracterização da caramboxina, uma nova ferramenta de pesquisa em neurociências, pode ajudar na produção de substâncias chamadas “antagonistas”, que são moléculas que imitam a toxina e podem se ligar aos receptores cerebrais antes da substância, evitando os sintomas. “Atualmente, a intoxicação é tratada com bastante sucesso com hemodíalise, se o diagnóstico for precoce”.

Os estudos sobre a caramboxina na USP começaram em 1998, quando o médico-assistente da Divisão de Nefrologia do Hospital das Clínicas da FMRP, Miguel Moysés Neto, constatou a morte por intoxicação de pacientes com problemas renais após ingerir a carambola ou o suco. De acordo com Garcia-Cairasco, Neto pediu auxilio a outro professor da FMRP, Joaquim Coutinho Neto, que iniciou as pesquisas neuroquímicas com a carambola.

Além dos professores Lopes e Garcia-Cairasco, também se vincularam a essa pesquisa o professor Luiz Silva, em cujo laboratório do Instituto de Química (IQ) da USP se fez a síntese na neurotoxicina, e o professor Ricardo Leão, da FMRP, responsável por ensaios “in vitro” que avaliaram a farmacologia da molécula.

Mais informações: (16) 3602-3023, com o professor Noberto Garcia-Cairasco, ou (16) 3602-4707, com professor Noberto Peporine Lopes

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